Não sinto você. Não sinto ele. Não sinto o outro.
Sinto o sol de fim de tarde batendo no meu rosto. Sinto os meus passos no chão. Sinto o spike da sua língua arranhando o meu rosto. Sinto sua saliva descendo pela minha garganta. Sinto o meu dedo passando pelo mapa da África até chegar em Luanda. Sinto a parede cinza, áspera. O vento levando a minha saia, o meu cabelo cegando a visão. Sinto os meus dedos nesse teclado oleoso, o calor abafado do quarto. A minha unha mexendo na espinha da bochecha, enquanto me vejo no reflexo no vidro do carro. Não sinto o meu reflexo. Não sinto a minha sombra no chão tentando me alcançar. Não sinto a sua voz enquanto me xinga. Não sinto prazer quando ele atira no diretor. Não sinto seu cheiro no gato que te roubei. Não sinto saudade. Não sinto tesão. Não sinto seu coração batendo junto do meu.
Não sinto o meu.