LUCIDEZ
E já no leito de morte
O moribundo se compadece
E já sem força espera o encontro inadiável.
À memória pensamentos
Outrora sem importância
Fatos vividos não foram vivenciados.
E aquela por vezes lembrada
Na roda de amigos ou nos devaneios noturnos
Está próxima sem ser convidada.
Não se desespera e aguarda
Como a uma noiva no altar
Sabe que o casamento será consumado.
Por que e o que será
Pergunta-se no leito aquele corpo flácido
E com as marcas do tempo a muito transcorrido
Nada lhe emocionava.
O copo ficara com a metade da dose
O cigarro no cinzeiro consumiu-se em cinzas
E o quadro era apenas esboço e assim ficaria.
Tudo pela metade estava
O almoço com o amigo não aconteceria
O filme no cinema não assistiria
E o jornal perderia validade
E as notícias sem comentário ficariam.
Não se planeja o futuro
Não se esquece o passado
E não se ignora o presente
Era a única certeza daquele dia.