GRANDES IDEAIS
 
No último dia de aula do primeiro semestre do ano de 2003, ao "bater um papo" com alguns adolescentes que compõem o nosso alunado, ouvi o seguinte:
- Profª, somos, na maioria, de bairros da periferia de Porto Alegre. A nossa realidade é a dos jovens de famílias pobres. Enfrentamos diversas dificuldades para estudar. Falta-nos, frequentemente, o dinheiro da passagem para irmos à escola e, nem sempre, conseguimos comprar os materiais solicitados. A vida não é fácil! Usamos a biblioteca não como lazer, mas como solução para as nossas necessidades. É ali que encontramos os livros que gostaríamos de ter em nossas casas. Entretanto, acreditamos que o espírito de luta e a perseverança nos possibilitarão vencer para, num futuro, ajudarmos nossos familiares.
Eu o ouvia extasiada. As palavras haviam desaparecido de meus lábios e, em meus pensamentos, visualizava as imagens referentes aos relatos do garoto. Meu estado de magia foi quebrado pela voz do menino que me perguntava:
- A senhora está bem?
- Sim! Continue.
Leonardo voltou a falar, dizendo enfaticamente:
- Desejamos, como todos os jovens, concluir o Ensino Médio, ter um bom trabalho e conquistar um espaço digno na sociedade, tudo isso mantendo a nossa integridade e lutando para combater as desigualdades sociais, a miséria e a violência. Queremos, intensamente, atingir a felicidade e a realização pessoal. Temos igualdades e pluralidades de relações como os jovens das outras camadas sociais.
- Certamente!
- O que desejamos será impossível? Um sonho? Não, queremos é vencer!
O menino, às vezes, enquanto falava, fazia uma pequena pausa, parecia estar reabastecendo as suas energias.
- Profª, a realidade de vários de nossos colegas é muito triste. Seus ambientes familiares são conflituosos, os relacionamentos carregados de agressões, de insatisfações, de mágoas e de sofrimentos; outros, uma pequena parcela, têm um convívio familiar fortalecido pela fraternidade, pelo companheirismo e pela amizade.
Independente dos valores que assimilamos, vivenciamos emoções e sensações como os outros. Não adianta nos revoltarmos contra o mundo, entregar-nos ao conformismo, ou manifestarmos rebeldias. A dureza, a insensibilidade e o desafeto, entre outros, fortalecem o ruim, o mal; quando a solidariedade, o respeito e o amor são responsáveis por boas ações e pela satisfação interior.
Leonardo, ao concluir estar palavras, levantou-se, beijou-me no rosto, desejou-me feliz férias e sorrindo, afastou-se.
O "monólogo" do menino, certamente, trouxe-me muitos ensinamentos e novas perspectivas...
Ilda Maria Costa Brasil
Enviado por Ilda Maria Costa Brasil em 12/06/2010
Reeditado em 09/01/2014
Código do texto: T2315741
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