LAMENTO SERTANJEO

Seu moço, embora esteja morando aqui na cidade,

saibas que não é isso que pede o meu coração.

Vivo aqui contrariado e parece que a ansiedade,

pouco a pouco esta a me matar sem dó nem compaixão,

este lamento nada mais é que uma baita saudade

que sinto lá da roça, do meu povo, do meu sertão.

A noite olho pro firmamento e sozinho fico a imaginar

a lua com sua luz prateada alumiando a terra inteira.

Vejo-me na roça, no silencio da noite e pareço até escutar

o triste cantar do solitário urutau lá no meio da capoeira.

Sei que a estas horas dorme o sertão, dorme o bom sertanejo.

Mas com a noite adiantada, quando a lua já vai declinando,

parece até que ouço o cantar dos galos do lugarejo,

no nascente vejo os sinais da aurora se aproximando,

quando pelos ares, saem em bando a passarinhada,

com gorjeios que num repente, se torna em bela sinfonia,

numa algazarra tamanha e em rasantes revoadas,

anunciam solenemente a chegada de um novo dia.

Lá lados do nascente, descoberto, o sol desponta,

vai clareando a silhueta de um homem quase perfeito.

O retireiro, homem do sertão, que por mais que se dê conta,

é um rude peão sertanejo, com qualidades e defeitos.

Enquanto ao longe, muge vaca ao encontro de sua cria,

Eita boi! Grita o homem na mangueira, com o novilho arredio,

é o seu trabalho, que faz o leite jorrar tenro na vasilha,

enquanto amarrado num tronco, berra o bezerro sadio.

Amigo, esta é a vida do sertão, e nesta lida que refiro,

entra dia e sai dia, faça sol, chuva fina ou tempestade,

lá esta, cumprindo sua missão, cuidando de seu retiro

mas em seu semblante castigado, vestígios de felicidade.

Mas seu moco, se o gado, merece cuidados constantes,

não posso deixar de lado, meu querido agricultor

que passa seus dias debaixo do forte sol escaldante,

a zelar de suas lavouras com muito carinho e amor.

Cuidando da terra fértil que por Deus foi abençoada,

tirando dela seu sustento e alimento pra todos nós,

por isso o lavrador deve ser uma pessoa exaltada

e seu nome proclamado em alto tom e nítida voz.

Amigo se não conheces, estou agora a apresentar:

Estes são os sertanejos que começam cedo a sua lida

quando ao surgir no céu, o primeiros raios solares,

lá no rancho de manhã, já se nota sinais de vida,

sobre os telhados, a chaminé lança fumo aos ares,

é a esposa no fogão de lenha, preparando a comida,

o alimento caipira que sustentará os seus familiares.

Pobres miseráveis! A primeira vista nos parece

Engano moço! Não se exalte em sua nobreza

Embora longe das regalias que a cidade oferece,

são felizes do seu jeito, ricos em sua pobreza

pois a roça lhe dá tudo, da cidade pouco carece,

são filhos do sertão e tem por mãe a natureza,

Olhe. Veja. Perceba o que mais os enaltece,

é que mais ninguém detém tamanha riqueza.

É Vendo esta imagem, em minha mente revelada,

quanta dor que sinto e a saudade invade o peito

deste velho fazendeiro que hoje não tem mais nada.

Já fui lavrador, criador de gado, mas vi tudo desfeito

quando aqui pra cidade, transferi minha morada.

Hoje minha filha tem do bom e do melhor,

minha esposa é madame, vive na alta sociedade

mas quando olho o horizonte, vejo a coisa de mal a pior,

não me dei bem com os modos, com esta modernidade.

Seu moço, e o dinheiro que sustenta este luxo

e que no banco foi aplicado, com a crise financeira

já não rende o suficiente para agüentar este repuxo

e de outra crise, com certeza, estou a beira.

Maciel de Lima
Enviado por Maciel de Lima em 30/05/2010
Código do texto: T2289313
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