Covardia

Num mar de possibilidades navegaram, perdidos e confusos, acreditando que parte delas poderia ser real. Mas nada foi real além do desejo. Nada houve além de desencontros. E com os olhos abertos pela consciência sabem que nada mais haverá, que vida passou em frente a eles sem que tivessem tido a coragem de estender os braços para retê-la apenas o tempo suficiente para começar a viagem – ou, quem sabe, fazer as malas.

Não chegaram a tentar, nem a planejar, nem ao menos a se iludir. Parece mentira que alguém possa ter tido a coragem de desperdiçar tantas chances; mas eles tiveram. Foram corajosos em sua covardia, ainda mais por saberem, crianças que já não eram, que a vida raramente oferece tantas possibilidades de retorno a um longínquo ponto de partida.

O navio não voltará ao mesmo cais. Estão desembarcando em portos diferentes, separados pela imensidão a partir de agora. A vida cansou de lhes mostrar descaradamente o que, dissimulados, faziam de conta que não existia: o fato de que a felicidade às vezes só depende de um aceno positivo aos caminhos que se abrem, mas que para isso é necessário um mínimo de coragem...

... porém a covardia trancou, a sete chaves, qualquer acesso a ela.

** 25/05/2009 **