COTIDIANO

Perdoem as palavras duras como a pedra

Atirada a esmo e sem mira certa ao desconhecido alvo

E atinge e fere meu irmão igualmente desconhecido.

O que será a cegueira da presença do outro?

Então sem direção certa também caminha

Aquele que não sei seu nome nem tão pouco

Sua história que a mim chega como colagens.

Como numa pintura pós- moderna

Carregada de elementos e significados

Desconexos à primeira vista

Assim se dá quando se ignora o outro.

E os transeuntes nas cidades entupidas

Suas memórias e sentimentos não compartilhados

Entrecruzam e se esbarram e nem olham

É a pressa imbuída no sangue como sinal de responsabilidade.

E como máquinas andam esses seres

Sem sentimentos expressos e escondidos

E se revelam nos travesseiros solitários

E à cama vazia lamenta o amor não correspondido.

E à dama do bordel recorre vez ou outra

Aos cânticos da missa desde criança treinado.

Assim transcorre o tempo sem pausa

E não espera para novos balanços

Então não se corrige o passado

Apenas serve para evitar novos erros.

E as cidades e seus habitantes

Transformam-se em nome do progresso

Porque nada mais resta senão avançar

Sobre os fracos e sua desídia que contamina

E emperra as conquistas a todos prometida

É o que pensam os Liberais já seculares

Só não falam da falta de oportunidades igualmente garantidas.

E no metrô lotado no horário de pico

Pessoas iguais a mim às suas casas voltam

Uns Lêem outros apenas dormem

E quem sabe não sonham com dias melhores.

Gostaria de saber.