A força do amor...
Agora ela nem
queria mais
pensar,
pois de amor
também
podia
ser consumida
como se fosse
uma náufraga
de suas
próprias
paixões.
Seu semblante
se entristecera
só de pensar
que agora ele
não existia
mais em seus
sonhos
e que a vida
de seu dia-a-dia
acabaria
sendo sufocada
por soluços
que sua alma
fazia brotar
das saudades
que nem bem
cumpriam
duas semanas.
Então hoje
ela decidiu
entrar em seu
Fiat uno
e dirigir
até
a praia
do Corgo,
onde havia
uma ponte
sob a qual
gostava de
ir refletir
sobre os
momentos
mais graves
se sua vida
Assim que
chegou à
ponte,
estacionou
seu carro
e desceu
o íngreme
caminho
que lhe
levaria
até o mar
onde altas
pilastras
se juntavam
às ondas
do mar
Já descalça
sentiu esse
frio das
ondas que
lhe lambiam
os pés.
Sua magreza
lhe permitia
ser bastante
ágil.
Assim,
bem depressa,
subiu
sobre a base
de uma
enorme
pilastra
na qual
se recostou.
A coluna
enorme
gelou suas
espaldas
enquanto
um vento
sudeste
lhe movia
os cabelos
loiros, lisos
e bem finos
fazendo-os
colar na
úmida pedra.
Ao longe as
nuvens
estavam
bem baixas
e negras
anunciando
um breve
temporal.
As ondas
estavam
mais fortes.
Então como
que por
respeito a
essa bravia
natureza,
ela se pôs
na ponta
dos pés.
Seu leve
vestido
estampado
de azuis
estava colado
em seu corpo
delicado.
O vento
soprava forte
cada vez
mais e mais.
Olhando no
horizonte ela
pensou nele,
e sentia tanta
falta de seu
amor e carinho
que lhe dava
vontade de se
atirar nas ondas,
para logo
acabar com esse
sofrimento que
não conseguia
mais administrar,
porque seu
coração se dividira,
e agora não podia
mais viver
essa solidão
atroz.
Nisso um raio
cortou os ares,
e logo se ouviu
aquele forte
estalido...
tshaaaazzzz.
Ela tremeu
de medo.
Então as nuvens
negras chegaram,
e uma pesada chuva
desabou em pingos
tão grossos que
sentiu seu rosto
arder inteiro.
Era um temporal
dos grandes.
Agora não poderia
mais voltar ao carro
sem correr o risco
de escorregar na
ribanceira que era
altíssima e perigosa.
Nada podia fazer,
e na realidade nem
queria mesmo fazer
nada.
Sua tristeza já lhe
havia matado a
vontade até de
viver.
No meio da tormenta
ela saltou para
a praia.
De tão triste
só pensava
mesmo
em morrer.
Para quê viver?
Sem ele não viveria
mesmo feliz.
E foi decidida em
direção às ondas...
Seus pés iam
afundando na
areia molhada,
e já estava com
a água chegando
às suas finas
coxas, quando
sobre as ondas
viu um pássaro
boiando.
Era branco e
tinha o bico
bem amarelo.
Parecia mais
um espanador
empapado.
Mas se mexia,
pelo visto.
Ela avançou
nas ondas fortes,
e agarrou esse
monte de penas.
Era uma gaivotinha
quase em estado
terminal.
Algo lhe havia
acontecido,
mas não sabia
o quê.
Apiedada dessa
pobre ave, tomou-a
nos braços e notou
que ainda havia
calor no corpo dela.
Um resto apenas
de calor.
Tentando salvá-la
ela a pôs em seu
peito para que se
aquecesse e
voltasse à vida.
O pior do temporal
já havia passado,
e ela conseguiu
a duras penas
subir a rampa
lamacenta e
chegar ao carro
onde logo
envolveu a
gaivotinha numa
toalha de banho.
Ligou o carro
e voltou depressa
para casa...ou
melhor, um
pequeno
apartamento
onde vivia
sozinha no
centro de SP.
Correu para o
armário , pegou
o secador de
cabelos e se pôs
a secar a ave
que tentava se
desvencilhar dela
e daquele ruído
desagradável
e forte do motor.
Finalmente a
ave secara,
e ela pôde observar
que era linda...linda.
De olhos vivos e
brilhantes.
Depois de bem
sequinha
colocou-a numa
caixa forrada com
tapetinho de lã e
ainda tentou
alimentá-la
com pedacinhos
de pão embebidos
no leite...mas ela
rejeitou...e não
queria mesmo
comer nada.
Então desistiu.
No dia seguinte
talvez comesse.
Fez um café fresco
e enquanto o
saboreava...
pensava em seu
destino...
Tinha sido salva por
uma gaivotinha !!!
E como agora devia
a vida a ela,
teria de cuidá-la até
se recuperar.
Sua solidão
desaparecera.
Curiosamente,
nem nele estava
pensando tanto.
O dia seguinte
nasceu lindo.
O sol batia no
peitoril da janela.
Ela estava já
cuidando de sua
gaivotinha que
agora secara
muito bem e
gulosamente
ia comendo todo
o alimento que
ela lhe dava.
Pão...patê...queijo,
ovo cozido,e para
finalizar ainda lhe
dava yogurt no
biquinho...
Mas que mordomias !!!
Duas semanas
depois...a gaivotinha
havia se recuperado
totalmente...e ela
decidiu soltá-la
pela janela do quarto
andar...
Ela já voava pelo apto
todo...assim que ao
abrir a janela a
pequena ave logo
ganhou a liberdade
e desapareceu
no meio de centenas
de outros prédios.
Seus olhos se
encheram de lágrimas
porque gostava
daquela linda ave,
que já lhe pousara até
nos ombros.
Nesse dia...voltou a
pensar mais nele...naquele
ingrato..que a abandonou
sem mais e sem menos...
E nem dizendo o porquê !!!
Apesar dela já saber, pois
alguém lhe contou...
Já no final da tarde,ela
notou
que a gaivotinha voltara,
e estava bicando a janela
para chamar sua atenção.
Ao abrir, a avezinha pousou
rapidamente em seu ombro,
e ficou bicando levemente
sua orelha.
De novo ela se esqueceu do
namorado ingrato...e foi
dar comida à gaivotinha
que depois de alimentada
voou de novo pela janela
e desapareceu na multidão
de edifícios de uma São Paulo
com mais de 10 milhões de
habitantes.
Márcia nem pensa mais
no namorado que partiu seu
coração...com promessas
mentirosas...e que a enganou
com outra.
Agora a gaivotinha sempre
vem à janela...sempre...
sempre...lhe fazer companhia.
Se tornaram amigas inseparáveis,
e ela com essa linda ave branca
do bico amarelo... aprendeu
que se pode ter liberdade
sem depender de ninguém.
Dando-se valor...
Muito valor a si mesma !!!
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Autor: Cássio Seagull
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Pequena história – Dia 17-03-10 às 18 h em SP
Lua nova – sol – 28 graus
Beijos e abraços para você...Boa quinta...
cseagull2@hotmail.com
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