BUMERANGUE
A louca do bordel
Antro dos mais variados e esquisitos tipos
Avessos a tudo que era normal e codificado.
E desamparado pelos outros seus amigos
Normais e codificados como devem ser
O homem moral e ciente da obediência
Ensinada já no útero normal e codificado.
Outrora às savanas andavam
Levas e levas de nômades seres
A inveja desconhecida e não alimentada
Dos outros o sucesso e o fracasso do companheiro.
Porque nada importava quando era a vida que se vivia
E feitos caravanas humanas sobre a terra andavam
Não famílias, mas grupos de seres nossos ancestrais.
E na conquista dos produtos em série produzidos
Anunciados nas TVs e tantos meios necessários
Levas e levas de compradores seres
Invejosos dos outros os bens conquistados.
É o mercado anunciando o prêmio
Seleto a uma seleta gente
Educada já no útero pelo mercado codificada.
E cônscio que Ter é o que importa
Às favas manda o Ser há muito esquecido
Num canto ou mesmo simplesmente abandonado
A quem interessar possa.
E divagando feito nômade na metrópole
Um ser e tantos outros iguais
Na miséria dia a dia vivenciada e à espera
Da noite quem sabe no frio chão por muitos já pisado.
E a louca do bordel
Visitada pelo bêbado, o peão e o empresário será
Porque ali se vive a vida real e sofrida.
Porque amanhã outro dia será
E novos e iguais papéis representados
Como num teatro para a platéia que o mercado escolheu
Para ver o maior espetáculo da terra.