UM BILHETE À TOA, EM UM BANCO DE JARDIM
Ele vestia uma calça frouxa, cor de palha, uma camisa verde escura, estampada com folhas cor de terra. Usava um boné amarelo reluzente e calçava gastas sandálias havaianas pretas.
Era final de outono.
O homem tirou do bolso largo da calça um caderno velho e enrolado e começou a rabiscar algo assim:
“estou cansado
de amores imperfeitos,
pessoas indiferentes
e amigos flutuantes
que ora dizem não
e ora falam sim
pessoas que mentem
de ingratidões disfarçadas
máscaras e fantasias,
conversas dissimuladas
e almas vazias”
Permaneceu lá mais um pouco.
O sol abraçou o mar de final de tarde e ele olhou o céu de outono, com um jeito que sempre quis, demoradamente.
Um canto forte de cigarras pousadas em uma amendoeira ensurdeceu o ar.
Anoiteceu e ele foi embora, calmamente feliz.
Destacou a folha do caderno e o bilhete, sob uma pedra ficou lá, no banco do jardim.
Por Yara Cilyn – 10/01/10
Imagem: por José Gama