UMA PRECE SENTIMENTAL
UMA PRECE SENTIMENTAL
Ó Deus, aqui estou de joelho,
A implorar-vos um conselho.
Para junto de vós levastes minha linda mulher,
Agora não quero uma pessoa qualquer.
Ela era pra mim Maria Quitéria, a soldado Medeiros,
Ó Deus, tende os anjos e arcanjos por conselheiros,
Graças a vós não conhecemos a miséria sequer.
Ela foi e sempre será uma mulher perfeita,
De cabelos loiros, um olhar meigo que a enfeita.
Foram apenas vinte e cinco anos e meses de casados,
Porém, até hoje ainda vejo seus cabelos dourados.
Reverencio a vós e a sua alma sem suspeita,
Tende piedade de mim e dos filhos amados,
Minha filha caçula sonha com a mãe quando deita.
Tenho com ela sonhado e me vem sempre o desejo,
De estar com minha amada ainda que num lampejo.
Para sentir seu perfume, sua tez, seu sorriso encantador,
Ó Deus, dai-me a chance outra vez de rever meu amor.
Não quero minha morte embora pareça fraquejo,
Ainda que de relance trazei-me sua imagem,
Gostaria revê-la mesmo que seja numa miragem.
Não sei se estou certo ou errado mas não estou acostumado,
A dormir nesta cama de casal sem uma mulher ao meu lado.
Hoje como legumes, sem sal, porque não me acostumei ao fogão,
Ontem era ela quem fazia a comida e sustentava o meu coração.
Agora não durmo direito, bate forte o meu peito cortado,
Os filhos reclamam a mãe que vós deles haveis tirado,
Fico triste, encabulado e com eles chorado de tanta emoção.
Tenho um consolo, certeza até, que ela está junto de vós no céu,
Mas a nossa família, eu e três filhos, estamos num escarcéu.
Todos a suspirar por sua vez a morte de uma pessoa tão querida,
Hoje entendemos, com clareza, ela era a rainha da nossa vida.
E tentando me soerguer às vezes mudo às vezes ao léu,
Vede nossa dor, compadecei-vos, vede nosso sofrimento,
Aliviai nossa aflição, diminuí nosso tormento.
Para a alma e o espírito dela nós temos rezado,
Ó Deus, vós que estais no céu, no ar, no mar e na terra,
Vede só, agora, como estou numa guerra,
Porque pelo destino fui fuzilado.
Não quero morrer nem sofrer mais ainda,
Mas dou-vos a vida ou do meu peito um lado,
E que me perdoem meu pai e a mãe Benvinda.
Outro amor me apareceu: uma jogadora de xadrez,
Fazei-me um favor ou matai-me de uma vez:
Que eu possa ser feliz com esta mulher e minha família,
Então vos peço e imploro humilde junto com a Emília,
Paz ao espírito da Fátima, e, estou de joelho.
Senão serei um vivo-morto ou um homem sem sensatez,
Ó Deus, pela uma última vez então, dai-me um conselho!
F I M