O melhor lugar do mundo
A brisa soprava e balançava suavemente a relva. Era uma tarde de intenso azul e poucas nuvens no céu. A orquestra dos pássaros tocava impecavelmente e especialmente para nós... E você estava linda! Nenhuma maquiagem, nenhuma roupa especial... Trajava seu vestido branco de algodão e calçava suas sandálias sem salto. Nos cabelos, uma flor amarelo-alaranjada que lembrava o pôr-do-sol... Tudo era perfeito! Num velho banco de madeira estávamos sentados. Ele tinha um tom marrom meio desbotado, mas muito aconchegante... Não haveria melhor lugar para nos acomodarmos. Em nossa frente havia uma árvore muito frondosa, uma macieira! Mas não uma macieira qualquer... Ela parecia ter uns mil anos e, todavia, aparentava ser tão jovem: seu tronco era de um marrom intenso, forte, impenetrável; suas folhas recriavam a cor verde; sua copa brilhava sob a luz do sol e servia de lar para pássaros e pequeninos insetos, que ali viviam em perfeita harmonia. Entretanto, o que mais chamava atenção eram seus frutos... Suas maçãs eram tingidas do vermelho mais puro já visto... Tão vibrantes! Tão vivas! Tão... Tão... Tão suculentas! Ah, Anjo... Como resistir? Parecia até um crime roubar um fruto daquela criação tão perfeita de Deus... Porém... O teu olhar ao ter a maçã em mãos... O arco íris dos teus olhos recriava meu universo, meu Anjo! E o teu sorriso... Teu sorriso era mais radiante que os próprios raios do sol! E éramos só nós dois naquele paraíso...
Foi quando, então, algo realmente estranho aconteceu: a maçã abandonara seu vermelho celestial e coloria-se agora com o azul do céu. Uma aquarela de emoções dominou nossos corpos, pois a maçã ainda era linda! Um pedaço do céu perdido na terra... Jogamos a fruta aos ares para que ela retornasse ao seu berço de origem, contudo, ela voltou negra como a total escuridão! O tom da aquarela que nos tingia agora era o medo. Larguei a fruta no chão como quem evita um bote de uma serpente... E te abraçava como que para impedir um possível ataque daquele objeto... Só que... Ele já não era mais negro... Nem azul... Nem vermelho. Era branco! Era vazio... Aliás... Tudo naquele momento começara a ficar assim... Vazio. E as cores fugiam transparentes... E você sumia em minha frente... E eu gritava: “Não, Anjo! Mas que martírio! Leva-me contigo nesse doce delírio!”.
Tuas asas fechavam enquanto meus olhos se abriam... O teto do recinto onde eu jazia deitado agora era claro... Tudo bem, foi um sonho...