E N C O N T R O
O banco do jardim me esperava. Isso há mais de 2 anos. Era um lugar cativo e repetitivo na minha vida. Todas as sextas-feiras a tarde, quando o sol já iniciava o final da sua jornada. Queria ser como ele. Sereno e absoluto todos os dias. Não importava se tinha platéia ou não. Cumpriu o seu destino, estava feito e bem feito o seu trabalho diário. Iluminar, ceder calor, dar sustentação à vida. Aquela descida no horizonte, era para mim mais uma etapa, mais um dia. Ele estava pronto para saciar o outro lado do planeta. Duas metades que se formavam um inteiro. Eu, precisava unir-me a outra metade. Temos um par de orelhas, de olhos, uma boca com dois lábios, dois braços, duas pernas, um pulmão com dois lados, um coração que se divide e se une.
Tudo na vida se completa com outra metade. Por isso que temos essa necessidade incrível de sempre estarmos procurando nossa outra metade, nossa alma gêmea, a outra que ira compor nosso inteiro.
Foi assim pensando na metade que me faltava, que de longe ouvi uma voz e um apelido conhecido: Di. Chamou a voz pequenina. Mas não liguei. Já tinha ouvido aquele apelido outras vezes e era só a voz interna, o desejo.
Diiiiiiii ! Agora foi mais forte, mais perto. Dava quase pra reconhecer aquele chamado.
Di... Sou eu! Dessa vez foi do meu lado, ali, pertinho, junto.
Virei-me e não conseguia acreditar.
Era você! Toda você! Linda, presente, concreta, palpável, admirável. Você!
O seu olhar e sorriso, veio com uma certeza de que também estava procurando sua metade. Eram braços que procuravam um abraço, olhos que buscavam um olhar.
Era a saudade que implorava o seu final. Uma boca que se enchia ao pronunciar o apelido tão conhecido.
Abracei-a. Abracei-a muito; forte, com vontade, com vibração, com serenidade como a brisa envolve. Como o vento forte abraça e penetra entre as folhagens da arvore.
Como a lua penetra decidida no adeus do sol. Como o sereno molha as plantas por inteira.
Abracei-a como duas pessoas se abraçam. Como dois amantes se declaram num abraço; frenéticos, voluptuosos, delirantes, ofegantes e contagiantes.
Abracei-a como duas almas se abraçam. Reconhecendo-se, amando-se, unindo-se, reconhecendo nelas o sentido e a beleza do universo.
Abracei-a, abraçou-me, abraçamo-nos.
Olhei no horizonte, o sol que furtivamente escondia-se daquele momento intimo.
Havia cumprido seu trabalho, sua jornada e deixava no jardim um toque dourado, como a ornamentar um presente que ele havia presenciado.
Entendi o significado daquele gigante que me dizia:
- Nada como um dia após o outro.
No alto, a lua já se avizinhava com sua luz serena.
O sol foi do encontro de duas pessoas, a lua seria do encontro de dois amantes.
Abraçados, caminhamos em busca da esperança de novos dias, de novos sonhos, de novas historias.
Di Camargo, 04/02/2010