Das águas de Siloé
Os que passam por mim oferecem socorro, mas não quero. Por favor, não percam tempo. Não perdi a razão, não... talvez alguns amigos. Apenas me enchi de toda a lucidez que uma mente pode suportar. Agora, estou assim, vendo o mundo desse jeito. Eles dizem turvo, mas asseguro que nunca vi tamanha clareza. Até aquelas cordas que saem dos corações a envolver os pescoços, a vendar os olhos e amordarçar, eu as vejo, a começar em mim.
E na sobriedade da fonte em que bebo, me sai um desejo profundo de desatar os nós. Esse é o segredo. Contei. Talvez assim entendam porque sôo tão estranho. E se me virem cambaleando, direi: é mera ilusão. É que me recuso às sinuosidades desses dias. Caminho, teimosamente, em linha reta, mesmo que abrindo clareiras nos meus conceitos. Obstinado? Não. Melhor diria obediente.
Se não se importa, nem lhe importuna, chegue mais perto.
Tenha, contudo, cuidado: aquele que beber desse rio nunca mais terá sede.
" Aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna." (Jesus Cristo, em Jo. 4:14)