A poeta e outro sonho
Já dá pra entender por que estou aqui.
Até parece... Inutilmente eu só apareço aqui pra falar dele, do tal amor.
É sim! Do amor, do mais raro refúgio das flores, do mais suave batimento de uma mão fechada, chamada coração.
O mesmo que me faz sofrer, que faz a mesma mão que bate se partir ao meio em forma de duas gotas que choram sangue e dor. Que te abandona depois que você abandona tudo pra ele ser o mundo na sua vida.
E quão mundo belo és o amor, que te ensina as proezas da vida, as canções da poesia esnobada no silêncio que faz eco.
E depois te larga na vida e se perde na escuridão, sem ao menos dizer adeus. Porque primeiro ele procura uma casa, outro aconchego, outro perfume, assim como o beija-flor sai de flor em flor a procura do néctar. E quando o encontra, ele pousa lá.
Ele te deixa de uma forma que parece que ele nunca foi embora. Porque as recordações ficam, os pensamentos, os momentos, tudo fica e colabora ainda mais para esse sofrer de angustias e lamentações.
Apesar de tudo o amor é realização, é bem-estar (isso quando se tem o por perto.);
É sensação, é como ir ao céu e pegar uma estrela e ver o teu brilho refletido no mais lindo olhar de quem te ama.
Devo parar com essa ilusão.
Eu já vivi esse sonho uma vez e sei que por trás de tantas maravilhas a dor da perda é bem maior. Porém eu ainda o amo, e ele é louco por mim. Mas é cínico, imbecil, sarcástico, e acima de tudo cúmplice do amor.
Não tenho escolhas, e mesmo se tivesse a minha vontade não seria escolhida. E mesmo se fosse pra escolher entre a vida e morte, se fosse vida você morreria.
Por essas e outras que meu sonho não é amor. É lidar com a vida, conhecer os traços, sua anatomia. Medicina é amar, é ser responsável. É namorar com a ciência. Mas nunca deixar um coração parar de bater.