Despertar
Desperta do teu sono, homem. Desperta dessa vida medíocre, cheia de ócio e ostracismo em que vives, diz a voz do meu espírito. Desperta dos momentos de nada, sem nada, ao nada...
Desperta da vida para a vida, realizando os teus feitos, remodelando a tua imagem, redistribuindo tuas questões para que tu seja a única questão em evidência a partir daqui. Que fazes tu da vida, Mefistofélico. Tens amado? Tens perseguido o alvo que te persegue?
Tens alcançado tudo o que te seduz, tudo aquilo que eu te proponho às escondidas?
Desperta no despertar que hei de te revelar e outorgar, diz o meu espírito de poeta. Desperta desses modos doentios, que amam amar nas consequências, que amam ser inconsequentes, que valem apenas o que escreves. Abandona um pouco a pretensão maior, deixa de lado por uns minutos a veia poética, abraça um pouco os teus, abraça um pouco a família. À família está reservada toda a virtude que necessitas, homem.
Desperta antes que se faça dia, pois na noite ainda há tempo de se erguer, sem desculpas, sozinho, circunspecto, como és, como eu quero.