O Vale do sono

No jardim plácido onde o silêncio reina imponente,

A Psique entorpecida – sentindo o vibrar de cordas das harpas celestes – Deita na relva orvalhada suspirando o Sono divino.

Morpheu com seus cachos brilhantes

Induz ao mais profundo letargo,

Cujo delírio inibe aos olhos uma brecha.

O paraíso das névoas brandas e esbranquiçadas

É um templo ao céu noturno estrelado.

O aroma de ervas e incenso colhido

Pelo vento da noite modorrenta

É espalhado pelos campos abertos em que deus

Algum ousa perturbar a tranqüilidade onírica.

Corpos esbeltos de jovens idílicos jazem

Nas plumas prateadas dos cisnes;

Estranhos seres incorpóreos e pequeninos

Soltam, em uníssono, o sibilo inaudível do ronco contido.

Vésper, pertinaz em sua trajetória rija,

Não se fadiga e persiste em radiante esplendor longínquo.

Os caminhos onde outrora Íris percorreu cuidadosa,

Ainda guardam as cores esquecidas.

Há uma fraca luminosidade que possibilita diferenciar

Formas e coloração nos diversos pontos

Por onde os olhos lançam um olhar sonolento.

Quando por fim as pálpebras descem,

A Fantasia inicia seu espetáculo!

O vale cativa com seu silente chamado;

Zéfiro afugenta os barulhos do norte

(Éolo permite o fardo dele apenas),

De outros rumos advêm doces melodias de ninfas virgens

Que cantam para sua deusa Diana;

Sons possíveis apenas ao ouvido da alma

Que dorme em algum canto recoberto de tecidos escuros.

Pobre do ser lançado no infindável sono!

Prazer não sente, e se sente não sabe.

Bem-aventurado quem imergiu no eterno sono!

Lembrança alguma há de ter da vida sofrida.

No piso de mármore – entre os pilares dóricos –

Acariciado pelos dedos suaves de sonhos ininteligíveis,

O ser humano errante, que por acaso aí se encontra imóvel

Envolto na atmosfera da subconsciência, descansará

Por toda a existência mítica do vale.

Marcell Diniz
Enviado por Marcell Diniz em 12/01/2010
Reeditado em 16/06/2011
Código do texto: T2025318
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