Reencontro
Foi assim que aconteceu, foi desta forma que notei em seu olhar um brilho estranho... ela me abandonava, ela saia da minha vida como se não houvesse entrado, como se não houvesse em momento algum de nossa história brilho no olhar, profundas pontadas na alma... um sem fôlego e sinos a badalarem precipitadamente...
Ela me deixava, foi assim que aconteceu a ferida na alma. Foi assim que se riscou uma cicatriz em meu coração...
Não chorou, não disse adeus... Olhou-me indiferente. Mostrou-me indiferença.
É sempre assim que acontece, é sempre assim... Por favor, vejam bem, veja o por que é tão difícil se apaixonar, por que ninguém quer deixar-se levar por este sentimento tão contraditório. A pessoa amada vai embora e não quer esboçar nem mesmo um soluço, ou um suspirar de pesar. Não vela sua alma. De fato, crava um punhal em suas costa e corre em direção ao nada, em direção a um vazio sem par.
Minha cama estava molhada de lágrimas... nela havia ficado minha alma, nela deixei lembranças, nela sufoquei com travesseiro minhas idéias sombrias a respeito do amor mal acabado. Deixei-a ali, um monumento erigido em minha alma, figurando amarguras e abandono... um sepulcro, uma lapide escrito jaz. Um epitáfio de um amor... um corpo sem alma um coração negro...
Pus-me de pé. Ergo-me semi-morto, semi-vivo. Lembro-me de Veríssimo – entendo o por que de quem quase morre ainda viver e de quem quase viver já estar morto. Sou um cadáver de pé. O rascunho de uma vida, um projeto sem propósito. Um sonho sem sentido... pus-me de pé. Caminhei para distante da cama de lagrimas... caminhei terreno sombrio, o meu vale de sombra e de morte. Ficou para trás o meu navio negreiro, o meu madeiro...
Calquei o jardim... em meio a arvores contorcidas... em meio ao frio da noite. Ajoelhei-me na grama molhada de orvalho e gritei a plenos pulmões. O amor escapava de minha alma. Uma fuga desesperada da dor latente. Da desilusão da alma e do frio e da solidão e abandono.
Na manhã seguinte, acordo na varanda, enovelado como um cão... abandonado sem raça pura, sem pedigree... passeio pela dor da noite e visito uma cama vazia, um jardim sem flores, uma alma taciturna. Balanço em acordo com o frio que se instalou em minha alma.
As noticias, onde não haverá lampejo algum da minha noite mal dormida, esta na calça. Giro mal à vontade a tranca (o que me importa o mundo, se o mundo não se importa) atropelo alguém. Um corpo frágil em meus braços, uma pele branca em meu tato... um cheiro de inocência em um odor de fêmea... um sorriso espontâneo, dois olhos de amêndoa... um coração a pulsar em meu peito, fogo a correr pelas veias. Minha alma novamente em cores. Meu espírito encontrando a mim mesmo, minha alma sendo sarada... um sol a fulgurar no céu de brigadeiro.