SER BICHO
É de dar arrepios o cinismo com que me tratas... E que cinismo, e que arrepio. São quatro da manhã, estamos a sós, pelados e sob vergonha, numa cama alheia, ébrios e tortos, descasados pelo tempo, afastados pelos limites das fronteiras, e tu me falas em desejos?!
Que há contigo, amiga-do-bicho? Sou eu teu bicho? Sou eu o pai? Não há tanta mentira assim lá onde vivo. E onde vivo senão aqui?!
É de dar arrepios e convulsões a maneira como te satisfazes por prazer, através de orgasmos nojentos, cheio de imundícies não naturais. És de fato apaixonada pela maneira SER BICHO dos teus amantes?
Dê-me meu cigarro e meus livros... Vai-te embora. Quem sabe noutra selva eu te ajude a viver. Quem sabe noutros arrepios não seja eu o bicho mais imundo, daqueles que te encantam e te fazem ser mais mulher.
Veja a conta, veste a roupa e vamo-nos...
Esperam-me a casa, a rotina e os outros bichos do dia-a-dia.