Sob pleno sossego

Recomeçar assim, amor?! Recomeçar nas palavras, por palavras que me ferem continuamente? E lá vou eu, sob rajadas de vento, sob a tutela da lei. De encontro ao passado entremeado ao futuro, nas esquinas da capital, na sala de aula. E que recomeço de merda ! E que recomeço absurdo ! Escrever, satisfazer o ego, editar palavras, exibir palavrões, tudo pela poesia universal, tudo pelo espetáculo dos imbecís. É assim que se faz amor, poesia? É assim que se faz poesia, amor? É assim que fomos criados, exatos para as maneiras exatas de ser? Eis o fim do recomeço, lá na lanchonete, em forma de sanduíches e sucos, a saciar a fome do interiorano. E sempre volto aos teus braços, cansado das rotinas, cansado dos recomeços. E sempre recomeço na rotina... E sempre me encontro habituado a recomeçar. E sempre a explicação mais sincera para o recomeço tão pregado é: precisas ter uma vida estável, Mefisto, com muito dinheiro para tua mulher e filho. E... E... E até lá vou esquentando a cabeça na esperança de deixar para os meus não o recomeço, mais o começo, meio e fim da vida sob pleno sossego.

Mefistofélico

Marcos Karan
Enviado por Marcos Karan em 18/12/2009
Código do texto: T1984844