AVE ADOTIVA

AVE ADOTIVA

Um pombo azul com manchas brancas, que durante mais de dois anos me acompanhou com se fosse um cãozinho adestrado. Era o ano de 1964, seus pais foram capturados por um gavião. Para alimentar seu filhote, cumprindo seu dever, como reza a lei natural, pela sobrevivência na selva. Primeiro o pai, logo após a mãe. Quase desfalecido ele tentou alçar vou caindo entre as vacas no curral, no momento em que eu cumpria a tarefa diária ondenhando-as pela manhã. Penalizado o acolhi. No almoço o coloquei sobre a mesa enfiando-lhe comida bico abaixo, dois ou três dias após, já se locomovia com maior facilidade. Em pouco tempo se tornou um belo pássaro. Onde quer que eu estivera ele sempre junto, me acompanhando no dia a dia. Na preparação das terras para o plantio, voava o dia todo, atrás do arado em nosso vai vem constante, enquanto a terra era tombada. De carroça transportando o leite, ou a cavalo nas viagens a doze quilômetros do Engenho, ele sempre me acompanhando. Tornou-se uma mascote indispensável no meu cotidiano. Até um dia que ao voltar de vaigem, ao Engenho, percebi sua falta. No dia seguinte deparei-me, com suas penas à margem da estrada. Tivera o mesmo fim dos pais. Confesso que me emocionei, como se a perda fosse humana.
Fico imaginado diante do procedimento, de um animal irracional, com seu gesto de gratidão, e o de um mostro capaz de atirar seu próprio filho por uma janela do alto de um edifício... E é considerado como racional!... Qual deles seria o irracional?
 
Geraldinho do Engenho
Enviado por Geraldinho do Engenho em 17/12/2009
Reeditado em 28/10/2014
Código do texto: T1982769
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