Conto de fadas

Sentado no escuro, olhos fitados no vazio, tento em vão sondar meus

pensamentos. Tento em vão ordenar sentimentos. O guerreiro esta no

chão, as pancadas foram fortes de mais... A guerra esta sendo travada

dentro de si, e ele perde aos pouco a fé na vida, ele perde o

prazer do sol... As cenas começam a ficar chatas e insípidas.

Magias dissolvendo no ar! Divido em dois, o sentimento, outro lado do seu

próprio ser, tornou-se um demônio devorador que tira - lhe o sono,

devora – lhe a alma, consome o espírito... E o guerreiro encontra-se

no chão... A espada fincada na areia do deserto. Arvores contorcidas

parecem sentir a mesma dor em seu peito, parecem lhe dar o vislumbre

do futuro... Seco, só. Morto, ainda que vivo!

O desejo de desertar e fugir para onde não existam espelhos da alma o enlouquece, a razão o consome... É impossível fugir de si mesmo.

Começa cogitar a entrega do espírito. Já tem quem venha buscar-lhe a alma, já tem quem lhe espere para receber o pagamento do outro lado... Nunca o peso sobre as costas foi tão sufocante...

Agora, ele sabe que tudo o que passou eram apenas leves arranhões... Dores, ele sente agora! O guerreiro esta no chão, e não há quem o erga, não há quem lhe estenda a mão...

Abandonou Deus, ou o arquétipo sugerido pelos homens... Sobre quatro

patas, o guerreiro continua no chão, e o que lhe prende não são os

ferimentos. Ele sempre sobreviveu... O que lhe prende é a ciência da

batalha perdida... A única que não poderia perder, a única que valeria

a pena, a batalha para qual fora criado! Falhou, no sentido de sua

existência, não completou a programação. O fracasso dilacera seu

coração, quebra-lhe os ossos... Onde estariam os amigos agora? Seguiram

em frente, ele ficou para trás, sob escaldante sol, entre as arvores

contorcidas, em meio as areias do deserto..."Contos de fadas não

existem" pensa.

As histórias nem sempre tem final feliz.

Edson Duarte
Enviado por Edson Duarte em 06/12/2009
Código do texto: T1963339
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