O vazio
Olho os barcos à deriva, à margem, a alcançar seus respectivos horizontes, a levar o meu amor pra tão distante, a se despedir de mim, num tão cruento momento. Olho a praia e seus mistérios, as casinhas, os casebres, os ilhéus, a minha vida, transposta e exposta nas linhas dessa praia tão testemunha dos meus momentos de infância, ao lado de meus irmãos, sob o olhar de minha mãe, nas aventuras e venturas da vida. E onde está aquela alegria pueril dos tempos de praia? E onde está a coisa boa da reunião em família? E onde estão os irmãos e a tão singela mãe?
Olho a noite que cai nos céus tristes desse lugar, quase a definhar por ausência de luz, quase a me xingar por estar ali. Oh, espírito compungido meu, não sabes que a efemeridade da vida é o mais perfeito e articulado ataque à humanidade? Não reconheces as curvas acentuadas que te tiraram os irmãos e a mãe? Não permaneces mefistofélico por ser forçado a usar dessa capa para não perecer?!
Olho a praia ainda...
Foi-se tudo.
Restou-me o vazio.