Último texto...

O texto flui... O vento leva as palavras para longe... Quem sabe, mais perto... Tão perto que o corpo sente...

O tempo vira poesia... Cronometra cada segundo de um dia cinza... De um dia...

A chuva rodou o morro... Lambeu-me a face... Incorporou-se às lágrimas.

Saímos, eu e o pensamento... Vagar!... Vagam as coisas espectrais...

Aquelas que nem existem mais...

O travesseiro fora o guia... Adornado de coisas que ficou sabendo... De tudo que não entende, mas respeita.

As voltas em construções... Olharia o céu, se fosse claro...

Pintei o dia... Uma tela plana... Rasguei os sonhos... Morri aos poucos.

Falta de juízo; um texto louco... Morder os lábios para não chorar mais.

As vestes são fantasmas... São vultos a rodear as paredes...

Envoltos sonhos... Vidros.

Quebram-se os sonhos... Dizem-me que acorde... A corda está por um fio...

Desenhada fita de cetim... O rosto pintado com tinta a óleo... Verniz.

A tela em jatos de água-solvente...

Uma sobrevivente, no caos.

Pintei um futuro... Diferente do que eu poderia desejar... Uma paleta de cores frias... Apenas a minha face avermelhada, olhando para o chão...

Havia flores... Sons e imaginação...

Havia água... A minha mina d'água, que busquei em palmas grudadas...

Os dias passam... Passarão... Passarinho... O Poeta fica.

O último texto... Apenas teu.

O calar do poeta... O fim da poesia... Dizer adeus à inspiração...

Calar a voz... Ouvir apenas o que o coração guardará para sempre.

Beijo-te a face... Deslizo as mãos no seu peito... Ouço o pedido esperado... E digo o último texto...

As palavras estarão no pensamento... Para sempre.

21:50

"Entre cores"