N'ALGUM DIA...NUM MOSAICO DE BORBOLETAS...

No dia em que eu não mais estiver por aqui, é para ali que eu quero voltar.

Embora minhas mãos já não poderão lhes tocar, tampouco meus olhos lhes apreciar, sei que ali estarão as micelas da minha passagem, o rastro perfumado da existência que ali deixarei.

Sob seus braços frondosos me balouçarei pelas manhãs de primavera, e jamais sentirei frio quando o inverno chegar, porque as essências sempre nos são atemporais e aclimáticas.

Estarei em cada flor recém nascida do mistério, e em cada gota de orvalho da fresca madrugada que nelas deslizar.

Em cada tapete de colorido sazonal que recobre a terra e acolhe a alma e em cada nuaça fosforecente das asas em mosaico que sustentam os leves corpos das delicadas e tranquilas borboletas.

Estarei a saborear de cada sinfonia dos pássaros, à maestria dos sabiás, que ocultos, a regem por entre as folhagens verdinhas que delineam as resilientes rotas das formigas.

Ensurdecerei momentaneamente aos relaxantes gritos das cigarras, e sei que não mais ouvirei outros tantos gritos, desses mundanos que de nós partem sozinhos e que também ecoam mudos...

Estarei no deslizar dos cisnes negros e no branco voo das gaivotas que se refrescam no lago.

Não precisarei me abrigar das chuvas, porque fagulhas de eternidade não se apagam ao deslizar das águas do tempo.

Estarei no íntimo profundo de cada bromélia, reverenciarei a aparente supremacia das orquídeas, porém continuarei a admirar os lírios do campo, humildemente rodeados de miúdas flores esquecidas, que sempre nos voltam sábios e elegantes a nos ensinar que a beleza da simplicidade é oferta aos olhos, e dádiva tangível aos corações.

No dia em que eu não mais estiver por aqui, é para ali que eu quero voltar.

Porque a única maneira de se ficar para sempre, é revoando de volta para o mesmo lugar...o nosso, donde jamais partimos.

Como num mosaico de borboletas...