NO ENCALÇO DA VEIA POÉTICA

Onde fica a veia poética? No coração, no cérebro, no estômago, no intestino...? Ou depende do que estamos procurando? Ou ainda do que está nos inspirando? Já sei! A veia poética não está; na verdade ela é. Mas, se é, também poderá estar em algum lugar. Quem sabe está em nosso corpo, em nosso espírito, em nosso peri-espírito, enfim. E se eu disser que ela está no que vejo e não em mim, estarei errado? E se falar que se estreita ou se alarga na medida em que mudo de olhares ou de objetos olhados? E se olhar e não disser nada para viajar em um trem movido a devaneios pelas planícies dos sentimentos nunca dantes percorridos? Vai ver que termina virando uma estrada sinuosa que comunica diversas regiões com destinos e ambientes controversos, por onde trafegam estrofes carregadas de rima ou sem rima nenhuma, mas nem por isso menos atraentes e inspiradoras. Como imaginá-la somente como uma estrada plana e tortuosa, se ela pode descrever parábolas e alternar subidas e descidas como aquelas que a vida nos proporciona? Não, não existe veia poética como objeto ou propriedade de alguém; ela é caminho sem destino, sentimento sem dimensão; vem para ficar e não fica; é passageira como nossa própria agonia, nosso desespero, nosso frenesi, nossas paixões, mas não viaja, nem é dirigida. Para onde vai? Para onde vem? De onde vem? Estas são perguntas irrespondíveis, surgidas em um momento de divagação, quando tento compreender a inspiração que acomete aquele que se dedica a escrever um poema. E aí? Será que vou localizá-la ou continuar buscando a resposta, na esperança que alguém a encontre antes de mim? Ou não?