Luz - Parte 1

Eu assisti o amanhecer do primeiro dia,

e acompanhei os nascimentos, um por um.

Nunca houve na história, então escrita,

um agraciado com um privilégio como o meu.

Fui o filho escolhido dentre as hostes,

o mais belo a caminhar em seu jardim,

batizado como a Estrela da Alvorada,

pelo pai, o mais amado e rente à si.

Eu estava lá quando o barro virou homem.

E me indignei quando toda a criação,

resignada, reverenciou o imperfeito,

e em um ato tolo, coroou Adão.

Pois era meu, o dever de ser amado,

e a escolha óbvia do louvor.

Como pudera o universo ter errado?

E não à luz, mas sim à carne ter amor.

Meu pai errou, insurreição foi a resposta.

Desafiei o criador e a criação.

Se não pra mim, o primogênito, viesse a glória,

me recusaria a fulgurar na escuridão.

Vi, pois então, na face de meu mestre,

a dor de um pai, ao confrontar um filho.

Escureci, envergonhado com meus atos.

Arrebatei-me, amargurado, para o abismo.

- Matheus Bueno² Funfas, 21/10/09