Aprendiz do A mor

Já viu um homem andar no sentido contrário a um vento capaz de muda-lo de direção? Isso é Amar.

Nessa minha pequena jornada em busca de um sentido de vida que valha a pena, já passei incontáveis madrugadas em claro, já chorei, bati e apanhei. Já ouvi gritos e fiz barraco na rua. Fui tremendamente feliz num instante e muito triste em outro. Já estive embriagadamente apaixonada por um momento, fria e calculista no próximo momento; já engoli sapos e cuspi fel; fiz tudo o que podia para salvar uma relação e, logo em seguida, tudo o que podia para me livrar dela. Porém, de tudo o que vivi, posso dizer com certeza, que conheço, do amor, apenas uma ínfima partícula insignificante. Nós nunca amamos. Não sabemos.

Muitos, ao sentir a brisa estonteante da sensação do Amor, assustam-se com a dor eminente e visivelmente contida na experiência. O vislumbre dessa dor faz com que fujamos diante da menor possibilidade dela se fazer presente. É bem mais fácil, cômodo e seguro, brincar de amar.

Amar de verdade? É entrega total. É colocar a felicidade do outro em primeiro plano. É perdoar mesmo quando abandonados, simplesmente por compreender que, ao nos abandonar, o outro fez o que era melhor para ele e, ao fazer o que é melhor para ele, fez também o melhor para nós. Porém, quem AMA mesmo, não abandona nunca.

O jogo da sedução e dos amores frívolos nos quais vivemos imersos, constitui um mundo de predação e exploração do outro. Nesse mundo a regra é tentar unir momentos de prazer sexual com afeto superficial. Não há Amor nesse jogo. Nele, nós só reconhecemos o carinho amoroso quando sabemos que aquela manifestação é apenas uma brincadeira e não representa o “perigo” de vivermos o processo doloroso de uma construção amorosa. Ficamos encantados com o descompromisso, pois é uma maneira de escaparmos.

Esse é, porém, um jogo mortal. Nele estamos mais predispostos a matar que morrer por Amor. Matamos por medo de morrer. Entretanto, essa dor (penso eu), é a essência de nossa missão enquanto seres humanos. Não há outro sentido maior para nossa existência senão aprender a Amar, mesmo com as limitações humanas, mesmo lutando contra o medo.

Raquel Rocha
Enviado por Raquel Rocha em 11/10/2009
Código do texto: T1860841
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