Às margens do Lago (auto-retrato)
Apertada às mãos firmes, à beira do Lago de Garda. Sentia o coração pela boca, afinal era primeira vez que assim viajando sozinha podia sentir o vento das montanhas. O silêncio invadia o corpo, estremecia as entranhas, em um êxtase diferente. Era mais pura, e mais sagaz. Navegava por outros mares, viajava pelos ares, fingindo alguma existência exata. Depois de muito, viu que era preciso sentir mais as vozes que vinham da mente. Era uma alegria tão grande, que transpassava os limites do seu corpo e iam pelo mundo afora , dando amor , transmitindo beleza. O silêncio era o mais impressionante, a vida brotava numa maçonaria de segredo incrível. Era o cara-a-cara direto com o tempo, o tapa na face pelos erros passados e futuros. Era a certeza de que os sonhos eram possíveis. Era a vida agradecida a todos que conseguiram dizer a ela , que os desejos eram possíveis. Era o alívio depois de um ano inteiro de forças exauridas pelo esforço não recompensado. Era voltar à vida, sentir que era possível ser diferente e feliz. Era saber mais que sabia. Era o único segundo que morrera de verdade, que sorrira de verdade. Era a verdade. O encontro com o proibido da própria essência. Era a visão completa de realizações, e de novas forças que seriam amadas. Às margens do lago de Garda, pôde sentir como jamais se sentiria novamente, mesmo que ali voltasse pelo resto da vida. Pode ver as flores e o pôr-do-sol da única maneira que alma sentia. Era a própria alma. Ficou a meditar por alguns minutos, antes de voltar pra casa que habitava na Itália.