O ÍNDIO E O MOCINHO
E com o silêncio
Os pensamentos perdidos na infância
Das brincadeiras de rua
As lembranças dos gols perdidos.
Do bang bang inspirado nos seriados
O índio elevado à maldade
Devia ser eliminado
E o progresso do homem branco
Suas leis e normas
Celariam a rendição dos selvagens.
O ouro amarelo e reluzente
Sem remorso ou lamento
Nenhuma flor à sepultura colocada
Coroava a conquista sangrenta
E corpos o chão decoravam.
E se a conquista honra e enaltece
Também os extremos serão lembrados
Senão nesta, mas noutras épocas que virão
E a honra outrora exibida e desejada
Abjeta se tornará.
E sabem os soberbos senhores da guerra
Arrogantes que são
Menosprezam a vida alheia e do seu próximo
Mãe, esposa, filho ou vizinho que seja
E partem às conquistas movidos pela ganância
Efêmera vontade de posse e poder.
Assim
Jazem nas lembranças da criança
Que virou homem e pai
E ao filho nada ensina
Só compartilha o que ouviu e viu
E guardou como se guarda um tesouro
A sete chaves e muitas pistas
No mapa da vida desenhado
Não por cartógrafo ou pirata que seja
Apenas e tão somente
Nos anos que passaram.
E que venham outras memórias
Alegres ou tristes que sejam
E saibam os que deles souberam
Que foram do coração que saíram.
E como a Nau dos conquistadores
Ao mar se entregou
Repito o gesto
Não para a conquista que desconheço o intento
Atiro-me às águas das vossas críticas
E a elas me submeto.
E se a razão for o leme
Fico feliz em navegar
Nessas águas límpidas e cristalinas
E a procela
Temida em tempos já remotos
Vencida será sem torvelinhos ou náufragos à deriva
E o porto já é seguro e a viajem finda.