PRECISO
Preciso me encontrar
Preciso precisar do grande encontro
Preciso saber quem sou
Para que ao me ver no espelho
Ofuscado pelo vapor
Não me assuste com a imagem que não conheço.
Acordar, sem saber quem fui
Não me dá certeza do que serei.
Andar pela rua qual estrangeiro
Não fará de mim cidadão.
Preciso encontrar
Preciso precisar não precisar
Fazer perguntas qual louco
Classificado pelos dogmas científicos
E perpetuado pelos preconceitos diários
E à casa verde jogados lá
Encerram-se os indesejáveis numa sociedade de sadios.
E incompreendido no seu mundo
Fantasia outros só possíveis nos desenhos infantis
E ainda assim
Côncio dos seus deveres
Vota e elege seus representantes.
Preciso da dúvida
Preciso dos deuses
Preciso dos semideuses
Preciso do poeta
Preciso da flor e do beija-flor
Preciso da chuva
Que rega a lavoura
E enche o açude e mata a sede
Do Homem, do gado, da fauna e da flora.
Eu preciso
Do riso, do choro
Da lágrima que escorre
De saudade, de felicidade
Do adeus, do seja - bem-vindo
Do abraço, do amasso.
Preciso de tudo e não preciso de nada
Se tenho o mundo
É dele que preciso.
Preciso saber
Preciso esquecer
Preciso lembrar que me esqueci de saber
Preciso falar
Preciso ouvir
Preciso acordar
Preciso dormir
Preciso despertar
Preciso viver
E esperar no que vai dar.