FILOSOFANDO
À espera do ônibus fica o cidadão no ponto
Vem o coletivo
E com ele
Um coletivo de problemas.
À espera da consulta já marcada
O coração bate teimosamente
E ao final de mais um dia
Festeja alegremente por essa vitória.
Até quando esperar?
Até quando viver?
Para ao final morrer.
À espera da noiva
O noivo impacientemente fica no altar
Ao fim das promessas
Religiosamente feitas perante a platéia
Que testemunha solenemente.
E transcorridos algum tempo
Já não tem certeza se tornaria fazê-las
E certamente algumas daquelas testemunhas
Já não estarão mais vivas
E o prometido
Como a carta sem destinatário
Não chega às mãos endereçadas.
Então, prá que fazer promessas
Fazendo-as não é estar dando esperança
A um tempo que não dominamos?
À espera da realização financeira
Joga-se em tudo, se aposta em tudo
E ao final
Se ganhou alguma coisa
Só terá ganhado coisa.
À espera da chuva que não vem
O sertanejo sofre, o gado sofre
A planta sofre
Sofre o Pai, o Filho e o Espírito Santo.
À espera da salvação
Muitos se escondem nos templos
Esquecem-se da tolerância, da solidariedade
E assim criam falsos paraísos.
À espera do ônibus
Fica o cidadão
Absorto em pensamentos
O coletivo passa
E ele não sobe.