imagem: hugotavio.multiply.com/journal/item/820


AMOR PIRATEADO


Olho no espelho, e sentir-me não está fácil.
Dentro de mim, anjos e demônios se digladiam para ver quem ganha.
É o tempo.
O tempo da espera.
O tempo da demora para eu desmoronar diante dos obstáculos do cotidiano - distâncias e saudades na contramão da indiferença do silêncio, das mentiras e omissões, que como setas, me acertam.
Fantasias frustradas e sonhos congelados roubam a cena no meu palco de luzes apagadas.
Olho nos meus olhos sem óculos, numa recusa proposital em enxergar a minha auto-tortura, ou minha loucura. Quem sabe!
Porque a negação abriga sempre uma forma de loucura. Branda talvez! Mas loucura.
Tenho urgência!
Preciso preservar minha integridade e meus sentimentos têm um encontro com a verdade.
E a verdade é que liguei a chave de ignição, não verifiquei o freio e me joguei nessa viagem quando fui convidada, curtindo com sofreguidão a paisagem.
Céu, lua, estrela, estrada, sonhos, projetos, mimo e carinho- um pacote impossível de se rejeitar.
Nem ao menos tive o trabalho de verificar se tudo isso era original.
Paixão a primeira vista.
Depois amor a perder de vista.
No perder de vista, chegaram as prestações: abandono, solidão, amor pirateado.