O VERSO ENGOLE O HOMEM

Numa manhã chuvosa, faz-se mais honesto o auto-julgamento. O poema acasala-se e o sentido aguça a sensibilidade inerente. Precaver-se quem há de, se a nudez permeável e inexplorada grita e o verso flui, queira-se ou não.

O verso engole o homem e se faz noite no coração do poeta que arrebenta em sangue. E chove o corpo em vã tentativa de ausentar-se, ainda que temporariamente. A solidão se faz clara, palpável solidão feita de espera. A chuva é um lamento que tamborila o sonho e cada um guarda em si, homens e coisas, o segredo jamais contado, o próprio mistério. Em silêncio as pessoas se entreolham, molham-se lábioos e se poupam. Por medo cobrem-se espelhos e os rostos se empoeram quando o fardo da aquiescência marca a boca num sinal de alerta.