Em Minha Poltrona
Criei vínculos com o mundo e o mundo mudou. Vi que amigos não eram de fato amigos. Vi que conhecidos me estenderam a mão. Vi que o vizinho que há anos me prestava apenas o – Bom dia – caminha comigo lado a lado.
Estou envelhecendo. As coisas de que gosto deixa de ser vista nas telas, nos jornais e outdoor. Minhas preferências tornam-se coisas do passado. Como diz Pessoa: “O que sei eu do que serei eu que não sei o que sou? Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E são tantos que pensam a mesma coisa que não pode haver tantos!”
Não pude definir-me ou mesmo me localizar no universo.
Estou perdido nas estrelas, procurando formas conhecidas no horizonte. Formas que me levem, ou ao menos dêem o conforto da lembrança do lar. Do olhar tímido de minha primogênita, dos grandes olhos curiosos da minha princesa média, da perspicácia do meu pequeno príncipe.
É bom caminhar por sobre areia da praia. É bom vasculhar o céu em busca do inalcançável. É bom ter tempo a perder. É bom perder tempo em um banho de chuva. É bom lavar a alma nas gotas de orvalho. É bom saber que momentos assim acontecem e frações de nossas vidas. Quem sabe a máquina fotográfica em meu rosto pudesse arquiva em meus neurônios a imagem deste crepúsculo!
Dormirei com os animais nortunos, o morcego a coruja. Mas não há mal agouro no dia.
Por fim estou perdido, em algum planeta distante. Caminho por sobre a praia e penso que fim levou a humanidade. Meu pensamento põe a percorrer o caminho de volta. Paredes estrelares,
A caligrafia destes versos.
Um ponto azul na imensidão negra.
Minha poltrona; minha lareira; minha caneta.
Eu desperto. Minha filha em meu colo.