A cidade...
Olhei a cidade... As luzes em movimento... As rodas a circularem... A chuva que não deu trégua...
O vento a soprar o gélido gosto da boca... Algumas palavras soltas.
Vi, nos locais mais sombrios, alguns canteiros de conchas... Vi a nossa pedra-lembrança... O mar a comer as paredes da minha resistência...
Um dia desses, saí pelas lacunas do tempo... Percorri o teu corpo... Estremeci, em tuas mãos... Fui tua... Recordação.
Nas correntes desse mar em movimento... Encontrei outro caminho...
Minhas vestes tombam pelas curvas do corpo... Encontro-me em voltas que o meu manto adorna... Sou vento calmo... Fugindo da vida... Banhando-me em água morna...
O beijo vem em fina face... E a lua teima em recolher as estrelas no céu da minha boca...
O sol não virá amanhã... Anda ocupado com o novelo das tramas... O raio que ilumina... Tem vários momentos... Transforma-o em duas, ou mais, criaturas...
E, eu, nessa vida que agrego, vejo além das palavras definidas... Vejo o louco caminho de quem fala sozinho...
Uma volta nos sentidos... Uma tentativa de acreditar no dito... Mas, ontem o rumo apresentou-se... A mensagem desconhecida... As palavras não chegaram a tempo... Outras foram lamentos... Em outras, precisei ser onça...
Noto que o significante, ora falho, tem significados estrondosos... Deve ser o mar chamando-me tão alto...
Clama só... Não recolheu as minhas pegadas... Saiu correndo na frente... Misturou-se com a água desbotada...
Clama alto, posso ouvi-lo... Diz que ama... É quase um grito...
Soluça a perda...
A cidade recolhe os rostos, na noite que se anuncia... Cobre os pés na manta fria... Porque o coração ainda é meu...
O teu riso proibido... Tua boca, em meu colo... Guardo-te...
O vento veio de repente... Arrepiaram-me os seios de um futuro... A água ferveu-me... Os sentidos...
Foi o dia... Do dito que te agrada... Do dito que me é possível... Agora.
20:21