Lucas impresso.
Lucas esteve ali, com sua austeridade e distâncias exaustivas. Andou em volta de si como se quisesse dizer alguma coisa. Sempre queria, com aquele seu olhar enigmático; e revelador a ela, que o conhecia. Achou-o interessante justamente por seus dizeres à queima-roupa, seu jeito tosco de agredir e ser gentil e polido em segundos próximos e distintos.
A moça olhou-o longamente, como se o visse pela primeira vez em muitos, muitos encontros antigos. Viu o homem a quem desejara intrinsecamente, como homem e como ser inacessível.
Sentiu-se pequena diante do rombo sentimental causado por aquele homem. Sentiu-se pequena diante da sua auto-estima dilacerada pelo espelho torto da sociedade. Sentiu-se nua e desprotegida, diante do segredo de gostar e, mais ainda, desejar em silêncio. O silêncio dos incompreendidos amores platônicos.
Deixou roçar os lábios carnudos e frios numa lembrança do que não foi. Lucas sentiu-a estranha, como se estivesse mas não estivesse ali. Respeitou duvidosamente aquele olhar estranho posado em seu corpo.
Revirou suas lembranças, também toscas e vazias. Não teve saudade do passado, nem do presente, nem do futuro incerto. Lucas era dono de uma incerteza gigante de um mundo que não ousou desbravar, por medo de sentir o que ela sentia justamente dominar-lhe.
Deixou uma lágrima bruta rolar pela face límpida e magoada. Deixou-se enganar pelo idealismo de se apaixonar loucamente por um homem imune a isto: ao amor, ao ódio, ao seu temperamento rude e amável. Ao seu canto inerte, à sua paixão escondida.