Bem-te-vi
Só o que ouço são os pássaros ao longe e minha própria respiração. Que se faz profunda, exalando suspiros que tentam acalmar minha alma angustiada pela ignorância e pela expectativa de algo que nem ao mesmo sei o que é. Os bem-te-vis se chamam com alarde, é da natureza dos pássaros fazer algazarra para saber que se devem encontrar.
Quando te vi, bem ou mal, outro suspiro brotou, e me lembro como se estivesse, neste exato momento, vendo a cena novamente em minha frente. Entendi que minha vida recomeçava a partir daquele instante. E a vida, com tudo o que é inerente a ela, me ensinou muito, mas principalmente me ensinou a valorizar cada momento dela, cada instante fugaz, cada palavra dita...
Entendi que não é uma metáfora: o mundo dá voltas, os ciclos se fecham, as coisas acontecem no momento e no tempo em que devem acontecer. Ainda que pareça injusto ou ainda que pareça sonho, somos peças pequenas à mercê dela, vida que voa, vida que não espera. Eu esperei e coloquei meus dias em suas mãos, na verdade em tuas mãos, aguardando decisões. A ti, que bem sempre quis ver. A ti, a quem apenas dentro silenciosamente chamei (sem que gritasse como os bem-te-vis) para perto de mim.
A vida me sorriu; a vida te trouxe de volta para mim... mas tu não me queres bem ver. Eu poderia dizer, bem que vi, mas de fato só vi com olhos de bem querer. Tanto tempo distante, agora que bem te posso ver, tampa-me os olhos?
Justo ou injusto, sonho ou pesadelo, é a vida. E ela grita e voa como os bem-te-vis.