Declaração

Conhecer você foi uma dádiva, um presente que a vida me deu, envolvido em pura seda, perfumado com almíscar. Desde então, o sol passou a nascer com mais brilho e a minha vida se encheu com novas cores, novos sons, novos sabores. Naquele instante, olhando para o horizonte e percebendo que não poderia mensurar o tempo nem a distância até a tênue linha que separa o céu e a terra, tive plena convicção de que a ampulheta de nossas vidas tinha acabado de ser virada, e que a areia fina começava a atingir o fundo, em um deslize manso e preguiçoso.

Hoje, sei que, até que a ampulheta complete seu ciclo, por muitas vezes teremos que caminhar à noite, no escuro. Teremos que atravessar a densa vegetação, com espinhos penetrantes e incômodos insetos a nossa volta. Mas eu sei e você sabe que tudo isso é necessário, que a mais bela paisagem não está aos olhos de qualquer um, que são necessários sacrifícios para se ter o privilégio de poder sentir a água fria da cachoeira caindo aos ombros, de ouvir o canto dos pássaros em uma sinfonia melancólica, mas sublime. Para isso, caminharemos juntos, de mãos dadas: se você se cansar, eu lhe darei água e esperarei até que recupere suas forças; se sentir frio, darei minhas vestes para lhe proteger; e tudo mais o necessário para que um dia possamos, descalços, caminhar juntos pela areia fina e branca que beira o rio onde deságua a cachoeira.

Então, sentaremos, um ao lado do outro, ainda de mãos dadas, para contemplarmos juntos o pôr do sol...