O PREÇO DA SOLIDÃO

Muitos anos atrás, um autor cuja identidade eu ainda desconheço e que, no meu entender, deveria estar bastante inspirado, escreveu estes versos que os reproduzo a seguir:

“Dizem que amar custa muito/Custa a vida querer bem/Mas custa o dobro da vida/Na vida não ter ninguém.”

Dentre as estrofes que já li até hoje, que não foram poucas, eu a considero uma das mais bonitas. Quando a vi pela primeira vez eu ainda estava no primor da minha adolescência e, ali, motivado pelo fervor da iniciação amorosa de um jovem inexperiente pouco atentei para a profundidade do teor poético dessa mensagem de amor. Algum tempo mais tarde, desta feita após ter percorrido alguns anos da minha juventude, eu pude analisá-la com mais propriedade.

Assim, após conviver com os altos e baixos, anões e pigmeus que surgem no decorrer da vida de um mortal que acredita que o amor é tudo, custei me aperceber de que alguns anos já se passaram e com eles também as gratas lembranças de alguns amores.

Da mesma forma que o tempo tem passado no seu compasso natural, marcando o ritmo que cada ser vivo precisa para seguir em frente, o teor poético desses versos também seguiu o seu curso.

Hoje, um pouco mais maduro, ou melhor, um pouco mais calejado nessa seara produtora de experiências sentimentais, eu prometi para mim mesmo que faria um breve comentário a respeito do teor dessa estrofe inusitada.

Confesso, a priori, que o ideal seria que eu pudesse fazer uma mini exegese de cada verso, mas por uma questão de coerência, se é que isso é possível quando estamos agindo com as idéias envoltas de muito amor, eu não irei me alongar nos detalhes. Apenas direi que o verbo amar, por ser um verbo transitivo direto e, em algumas situações, intransitivo, ele não consegue sobreviver nem caminhar sozinho. Há nele essa característica de carência constante, da necessidade de alguém estar envolvido ou envolvendo alguém para que ele tome corpo, e isso faz que com ele se torne uma verdadeira marionete nas mãos daqueles que o praticam na sua essência.

Desta forma, ao analisar os dois primeiros versos (Dizem que amar custa muito/Custa a vida querer bem), é possível vislumbrar a preocupação que o autor teve em realçar a real importância que a atitude amar representa na vida de um ser humano. Mas, em se tratando do fenômeno natural vida, em quais situações a atitude “amar” custa tanto assim, induzindo aquele autor a comparar também o valor de uma vida ao ato de se querer bem?

Afinal de contas, que espécie de amor ou querer é esse que tem o valor de uma vida?

Imagino que o autor naquele momento tenha se referido ao amor companheiro, ao amor amigo, ao amor real, ou a um desses “amores” que em nenhuma hipótese um dos seus pares deixaria o outro “a ver navios”, caso contrário ele, o autor, não teria finalizado sua trova usando a afirmação da forma que o fez... “Mas custa o dobro da vida/Na vida não ter ninguém”.

Como os amados e as amadas de plantão podem observar, aqui, nestes dois últimos versos, o autor estaria se referindo, não ao amor propriamente dito, mas àquela solidão nua e crua que se apossa da alma de algum vivente em algum momento de sua existência. E viver uma vida, por mais curta que ela seja, por conta de uma solidão desenfreada, com certeza, deverá custar mais que o dobro de algumas vidas.

Na minha forma tacanha de analisar o amor, eu entendo que amar e ser amado, reciprocamente, não tem valor que pague. Quanto ao preço da vida referido pelo autor ao longo dos últimos três versos de sua trova, com certeza, ele sabia do que estava falando quando a produziu.
Germano Correia da Silva
Enviado por Germano Correia da Silva em 26/06/2009
Reeditado em 15/10/2009
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