Vida minha

Disseram-me... Não recordo quem... Que a vida surge aos poucos...

Quem dera ouvir isso de novo...

Olho pelas vertentes da tua voz... Surrupio o sorriso que sai do cantinho da tua boca... Colho, das mãos, o toque que marca...

Posso atrever-me a dizer que a vida vem em goles?... Posso olhar-te em cada estrela que marcaste... Das cores que crias em meus ouvidos.

Quem dera alguém sonhar o meu sonho colorido!...

A música dedilhada em cada palavra de uma construção frasal... Em cada enunciado... Em cada verbo deslocado, sem sentido respirado...

Afoito é o mundo no qual vivo... Cada dia mais bonito.

Enfim, colhi flores... Deixas, na janela, ao amanhecer...

Colho, ao espreguiçar, a cantoria dos passarinhos.

Quem poderia dizer-me de fato... Que a vida surge aos poucos?

Se enlaço teus braços... Se és abraços...

Corri o mundo... Cheguei tão cedo... Espero com calma, o teu começo... Respiro lenta... Sinto-te.

A voz que lanças, ao pé do ouvido... As minhas tramas de um texto em movimento... Macio feito, a vida em giro.

Posso olhar-te, com riso solto... Posso colher-te, na mina d'água...

Já fui criança... Já sou a tua estrela...

O que pedir da vida, então?!... Se o vestir desse amor já fora construído...

Ouvi, um dia, alguém dizer que a vida surge aos poucos...

Vejo, agora, que ela surge a cada respiração...

21:11