LENTES!

Eu vinha sem óculos, enxergando o colorido.

Vinha tão tranquila...

Naquela mesma estrada de sempre, entrecortada pelo arco-íris,

aonde todas as chuvas me pareciam brandas.

Eu só colhia flores do campo, porque eram simples

E eu sentia que a felicidade estava ali.

Eu não sabia que os céus trepidavam

e que as aves, assustadas, se calavam frente às tempestades...

Eu vinha sem óculos, e tudo me parecia só cor...e silêncio bom.

Quando abri as portas, eu levei um susto!

Porque sequer minhas flores estavam lá!

Eu nunca imaginei que minhas flores partiriam.

Porque eu apenas vinha, tudo só vinha!

e poucas vezes precisei abrir caminhos.

Eles sempre pareciam estar ali...a me esperar.

De repente, deram-me lentes...

-Meu Deus! eu exclamei- Essas lentes que tudo ampliam...

Então foi ali que me obrigaram a enxergar.

Pouco entendi os caminhos vindouros, porém percebi

Que o tudo que eu trazia na redoma

fugia de mim, entre os cascalhos da velha estrada.

Também foi ali que, de súbito, eu enxerguei a vida...

Logo depois que se quebrava o meu primeiro encanto.