As notícias de amanhã
Hoje a notícia do dia perguntou-me pela saúde dos meus óculos. É que já anda há uma semana à procura deles e as certezas vão-se sumindo no ralo de um sorriso sem palavra. As notícias cada vez chegam mais adiantadas, mas isso todos já estamos carecas de não saber, porque adivinhamos ratos roliços entre as páginas da vida. Que chatice porque eu tinha recortado um anúncio para as próximas abstenções às urnas e senti uma dentada nas nádegas. Na desordem, os dentes dianteiros ficaram cravados no tarot da ginástica chinesa onde também os sapos saltavam todos para trás a negar a falência do dinheiro. Procurei pela fava que nunca me calhou para lá encaminhar todos os barrigudos mas o meu dedo colou-se à tomada eléctrica e fundiu todos os fusíveis no meu cérebro. Quis ficar séria mas o choque arreganhou-me as beiças roxas da dúvida, e qualquer coisa me caiu do céu da boca. Debrucei-me para apanhar do chão o pensamento para dentro de mim, mas já o sol queimava a madrugada dos meus botões. Nem a chuva de areia soube o caminho do esgoto das mentiras. A propaganda contra o voto de castidade, de um bando de tansos pardais que corrompiam as camadas mais amáveis dos crédulos numa luta sem tréguas, fez nascer toneladas de preservativos para a consciência.
Quase que me afoguei.
Quando encontrei os óculos escondi-me dentro deles.
As notícias de amanhã vou sabê-las de óculos escuros…