SALINA
Certa vez escrevi algumas palavras refletindo sobre o “papel” do Word estendido à frente dos meus olhos. Aqui estou outra vez olhando para esta brancura de salina, esperando que dela saiam outras palavras. A profundidade do branco se nega. Insisto em busca de escrever. Estará um poema escondido nesta luz? Que me nega o segredo dessa claridade sedutora?
Este parágrafo se esconde. Vou buscá-lo nas redondezas do impensado. Puxo com força os substantivos, os verbos, os pronomes, sujeitos de uma história soterrada.
Sigo por sobre pedras e verbos inconjugáveis. Tenho ganas de rasgar a gramática. Deslizo pelas concordâncias nominais e verbais. Corto as crases com a espada de Dom Quixote. Deleto as vírgulas, exclamações e interrogações. Acho pouco e desfaço o fio das figuras de palavras e de pensamento.
Neste quarto parágrafo desfiguro a face do soneto. Desfio uma ode e teço um casaco para me proteger do frio deste salgado silêncio de luz.
O quinto parágrafo serve para dizer ao Word que guarde longe de mim a chave do segredo do poema não escrito, ressecado na luminosidade feito mariposa desritmada.