Madeira Mamoré...  

Toda a tarde veio descendo pela ribanceira do Rio Mamoré,
onde alguns índios pareciam vestir fantasias de samba enredo,
misturados numa selva que lembrava bem um carro alegórico.

Minhas mãos se turvavam nas águas barrentas desse rio,
que se agigantava alargando-se mais e mais no sentido foz,
numa velocidade até muito rápida para um rio tão enorme...

Éramos apenas um barquinho de papel numa imensa banheira...
e tanto ela, índia trigueira, quanto eu...remávamos pela corrente
cujos remos em forma de pá ...penetravam fundo na água

enlameada por fortíssimos temporais da distante cabeceira do Gravataí...
e das margens que iam se solapando e derrubando a mata ciliar
que acabava flutuando como balsas nesse afluente do Orenoco.

A chuva agora chegava...e nós dois, Talita e eu juntos,
sabíamos que era remar ou morrer ali mesmo no soçobrar
do barco e toda a tralha que se ajuntava no fundo de seu casco...

Ah... força hercúlea...que a Hércules causaria profunda inveja
porque só um dos raios caídos neste instante partiu bem ao meio
o enorme Jatobá que levara 100 anos crescendo na densa mata,

mas que agora se transformara apenas em alguns palitinhos
que rodopiavam rio adentro como se fossem barcos a deriva
sem destino certo, porque podiam encalhar nas ribanceiras

e depois servirem de pontes para a travessia dos indígenas
naqueles trechos do Mamoré onde ele se divide formando meandros
que coleando no meio da mata iam invadindo os igarapés...

Ai... Talita...
Esses teus seios soltos me fazem lembrar a história de Iracema,
aquela virgem dos lábios de mel e dos cabelos negros como a
asa da graúna, tão romanticamente escrita por José de Alencar.

Olhando teu corpo, linda índia amazona...todo respingado
desta chuva monumental...vejo teus músculos ...teus braços
fortes...tua cor cobreada a brilhar como um perfeito pôr de sol.

Lastimo não poder atracar nosso barco neste rio agora violento,
cuja corredeira nos leva aos saltos no espumaréu dentre pedras,
onde o pensar se volta apenas para o preservar existencial...

Ah...rios da nossa vida...Ah...índia da minha vida...
nossa viagem é como um destino... não sabemos para onde vai,
mas sabemos que é de ida...por enquanto...

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Prosa poética  feita por mim,Cássio Seagull, em  26-02-09 às 22.30 h..SP.
Lua Nova - chuvas e sol ...- 26 graus.
Beiojs e abraços para você....Boa sexta...
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