Um dia qualquer... ao horizonte
Um dia qualquer... Um domingo. Ela olhava intermitentemente para uma janela vazia. Uma espécie de insegurança do Século XIX, talvez indecisa em saber se ligava ou não. Não, ela jamais ligava. Esperava. Que os outros passos fossem dele, ao menos. Pra diminuir aquela sensação de estar sempre errada... correndo atrás.
Uma hora perdida, de uma tarde interrogativa. Uma conjectura, Uma vontade vazia, saudade de algo que nunca teve de verdade. Teve novamente a vontade de bater à porta, mas resistiu bravamente. Aquele homem não era como os outros. Aquele homem era uma espécie de incógnita e insucesso já previsíveis em sua vida. Vontade de gostar novamente? Medo de desgostar como jamais chegou a conseguir?
Suspiro. Um suspiro leve e doentio. Um medo lhe percorrendo a espinha, maior do que o medo de prosseguir. O medo de nunca chegar, ao menos. Medo, de não olhar nos olhos jamais daquele homem que lhe acertava tanto o coração vazio. Preenchido pela saudade e pelos ruídos de um fim de semana mal dormido, pensando, pensando.
Ela se sentiu um objeto sem valor, um pedaço de papel rasgado, descartável. Sentiu como se uma ventania passasse por ela e derrubasse todos os pedaços de música e verso e possibilidade de alegria. Sentiu como um atropelo da sorte, como uma tristeza infinita, que ultrapassa mágoa ou raiva. Aquelas tristezas doloridas...
A moça olhou seu próprio corpo, como quem olha o âmago, como quem sente o estômago doer porque se esqueceu de que precisava comer para ainda estar viva. A moça olhou o corpo já tocado por aqueles dedos antes doces; agora amargurados. Olhou, mas não sentiu pena de si. Teve pena dele. Talvez não houvesse jamais outra pessoa capaz de lhe dar a ternura que ela lhe ofereceu. Sozinho era ele, advertiu-se. E dormiu o sono dos justos.