Um perdão
Desculpa-me por querer compartilhar teus dias. Releve minha fidelidade e meu comprometimento. Perdoa-me pelo meu carinho, pelas vezes em que engoli em seco para não molhar teu ombro. Peço-te perdão, se não pelas arestas, pelas tentativas de apará-las; por ter dito exatamente o que querias ouvir – já que talvez eu devesse, às vezes, ter dito apenas o que me tornasse honesta aos meus próprios ouvidos.
Ouvidos que já não me creem mais.
Desculpa-me pela devoção. Tua vida é só tua. Não caber nela não é só privilégio meu: cada um que te ama cabe apenas na proporção em que tu aceitas - um cubículo limitado, onde nem sequer podemos abrir as asas. Assim, agradeço-te por moldar minha paciência desta forma flexível e quase infinita, e te peço mil desculpas por jamais ter chegado ao limite.
Limite que já nem enxergo mais.
Finalmente te agradeço pelo silêncio a que me submetes, porque sei que é de coração que o fazes. E te peço perdão pela ironia com que te brindo neste momento.
Momento como tantos outros, que não se repetirão e nem serão esquecidos jamais.