Fim da manhã
O que vocês fariam se soubessem um dia que o mundo acabaria no final da manhã? Todas as horas restantes intensamente gastariam? Admirariam pela última vez a alvorada vindoura tingindo de vermelho a madrugada sombria? Abraçariam apertado o seu ser amado e diriam apressados o quanto lhes é devotado? Praticariam um ato de amor tão profundo e juntos gozariam relaxados até as lágrimas brotarem dos tristes olhares de adeus? De mãos dadas passeariam pela alameda em flor a tempo de ouvir dos pássaros a derradeira melodia de amor? Ou, então, talvez, se quedassem em prantos e orações a conjurar o destino que pregam as religiões. Ou, quiçá, saíssem correndo pelas imensidões sem fim, a querer que o tempo parasse ou não corresse assim. Decerto haveriam os desesperados, os que não puderam fazer o que deveriam ter feito antes de anoitecer. Muitos se arrependeriam e rogariam de joelhos pelo perdão divino. Alguns, tresloucados, se suicidariam de uma forma vã. Outros morreriam de um medo terrível, juntos com aqueles de saúde malsã, no dia em que o mundo acabasse no final da manhã!