- Seu moço, "cê" dá licença?
Posso me sentar?
Se o senhor tiver paciência
Minha história vou contar...
Sei que não sou astuto
Sou apenas um matuto
Que resolveu aprender amar

Quando conheci Catarina
Não imaginei que seria assim
Aquela linda menina
Tinha criado uma coisa em mim
Cada vez que eu "via ela"
O peito dava uma sacudidela
E meu rosto era vermelho carmim

Um dia superei o medo
E cheguei perto daquela flor
E sem muito enredo
Falei pra ela do meu amor
Ela virou pra mim e sorriu
Então todo o céu se abriu
E quase derreto pelo calor

Foi calor que senti, Seu Moço
O sorriso dela abriu o céu
Minh'alma ficou em alvoroço
Meus olhos pareciam ter um véu
Era lágrima de emoção
Então peguei em sua mão
Como se fosse um troféu

A gente virou namorado
Vivia de beijo e abraço
"Minha vida era palco iluminado"
Nós andávamos o mesmo passo
Fizemos planos pro casamento
Seria um grande acontecimento
Se não viesse o mal fadado fracasso

Um dia tive que ir viajar
Visitar minha vózinha, doente
E Catarina dizia que iria esperar
Com todo seu amor ardente
E segui o meu caminho
Pela primeira vez sózinho
Porém, muito feliz e contente

Passei três semanas com minha avó
Mas, a pobre, de doente faleceu
Fiquei numa tristeza de dar dó
E no caminho de volta me pus eu
Voltaria pros beijos de Catarina
No entanto, como tudo tem sua sina
Ao chegar, percebi, ela não tava só

A mulher que me jurou amor
Havia arranjado um amante
Senti uma espada fria de dor
Penetrar o peito lancinante
Fiquei cego, fiquei puto
Eu um apaixonado matuto
Ser traído por sua flor

Fingi que não sabia de nada
E casei na igreja e no papel
Ela se julgava feliz e amada
Quando chegou a lua-de-mel
Mandei ela para o inferno
Era defunta a mulher: amor eterno
E eu um matuto ignorante, virei réu

Fui julgado e condenado
Passei trinta anos na prisão
Matei por estar apaixonado
Por ter dado o meu coração...
Obrigado, por me ouvir, seu moço
Já tá na hora do almoço
Deixa eu seguir minha direção

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Dedicado ao maior contador de causos, intérprete de poesias regionais, cantor e cantador... "A bença": Rolando Boldrin
(Temos algo em comum, nascemos em 22/10, só que ela trinta anos antes...)