Renascimento
De um amor que se foi, restam memórias, pensamentos esparsos lançados em folhas avulsas amareladas e esmaecidos pelo tempo, como relatos desprezados pelo poeta, encerrados pelo declame solitário em frente ao espelho.
Em alguma gaveta emperrada guardam-se lágrimas ressequidas, estrelas caídas, viagens perdidas.
De um amor que arremessou sua semente e ainda não fecundou, há expectativa, busca assídua, olhares pungentes. Verte um sangue quente que nutri a carne, mastiga pétalas, sorve aromas.
¡Em mim, já brotou. Emergiu. Consagrou!
Ouso acudir a noite antes que ela cesse e cimentar nosso amor onde arrebentam as ondas.
Se morrer este amor antes que eu abasteça minha vontade de você, não vou conter a indelicada lágrima que me salta a face.
.Se morrer este amor.
.Vou aprisionar minh’alma nas raízes suspensas da velha árvore sagrada, fazer meu último pedido no altar de um templo maldito e ajoelhar-me perante a rosa renegada.
.Se morrer este amor.
.Enterrarei essa louca errante na melancolia do entardecer, vítima de uma relação imolada, malfadada na escuridão de um espírito descrente.
No mar, vou me deitar p’ra renascer, porque outrora o meu amor não me deixou ver o teu e alinhavou minha alegria na tua agonia.
Atravessaria o oceano, se preciso fosse, para amar e ser amada por você, apenas um instante.