eu tenho andado por aí

Eu tenho andado por aí, viajando muito, poucas muitas roupas em minha mala, a estrada e eu... e tenho me perguntado, depois de tanta visagem, depois de tanta gente que veio e se foi... o que tanto eu tenho buscado... o porquê dessa busca insana, porque tanto chão, tanto mar, tanto rio de se banhar... o que eu deveria ter achado e ainda não achei...

Eu tenho andado por aí, com uma viola debaixo do braço que eu nem sei tocar... buscando amores que me correspondam, mas como diz o velho ditado, o primeiro beijo é implorado, o segundo é aceito e o terceiro e os posteriores apenas suportados... onde eu encontro a paixão que tenho, o amor que é excessivo e acaba por sufocar a quem está por perto... onde eu encontro essa magia que me atormenta a alma, com quem posso dividi-la... quem é aquele que vai andar comigo, mundão afora, pegar chuva na cabeça sem se importar, escolher uma estrada aleatória e seguir nela, só pra ver onde vai dar... será que essa pessoa existe... por que todos estamos tão apegados ao meu, ao o que sou, meus rótulos, meus medos, por que simplesmente não voar... como a águia que nos guia ao mais além...

Eu tenho andado por aí procurando você... eu sei que você existe, e anseia por viver essa liberdade... mas liberdade não restringe a nossa capacidade de amar... porque amar não é necessariamente prender ou estar preso... amar é estar porque se quer... pelo prazer que é estar...

Eu tenho andado por aí, irmão... babilonicamente, sei que todas as pessoas estão presas a algum anseio... sei que viver não é fácil e sobreviver menos ainda, e que esse mundo não é solidário, e que a família é fonte de segurança mas também de fracassos, nascedouro de incertezas, frustrações... eu quero poder voar... trilhar minha estrada e não saber do amanhã, o amanhã que se dane, eu quero é o hoje... viver cada dia intensamente, e de preferência não saber onde estarei amanhã... o único porto que eu quero, a única segurança é a de saber que você vai estar comigo... que talvez queira voar e comer em outro jardim... quem se importa, pássaro migradouro, se você sempre volta... e a felicidade que você traz consigo é construída de momento em momento em nós dois...

Não eu não quero parar... não quero guardar um pedaço de chão, nominá-lo, rotulá-lo e chamá-lo de meu... minha estrada é o meu chão e ela me leva tão longe... toda terra é de meu deus, não quero nem um pedaço guardado dela... onde eu quero estabelecer minha casa é no seu coração e na sua mente... e que você me aceite lá por que quer, não por imposição... que você possa pegar aquela velha barraca e abrindo o portão com seu sorriso de sol, me gritar simbora e eu responder demorou... aceito o novo, o inesperado... tudo do muito aprender... cheiro de mato, pés atolados, rituais das muitas tribos do nosso povo, dança na mata, cristais verdejantes pululando em nossos olhos, banho de cachoeira, estrada, pó, amigos novos e velhos, vendavais, ventanias, rio, mar, incertezas e certezas, bolso vazio, bolso cheio, cozinha, barriga vazia, fogo de chão, montanha e fazer amor na pedra...

Simbora lá ver o que nos aguarda no próximo amanhecer...

Cacau Segobia
Enviado por Cacau Segobia em 01/03/2009
Código do texto: T1463982
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